Claudio leal Domingos:
Claudio Lel Domingos@ gmail.com
Varal de poesias...
Claudio passou sua infância e mocidade
em três cachoeiras, Rs. Ele é historiador e
escritor...
BRASIL RURAL ANTIGO
O BRASIL, PAIS RURAL,
ACABOU SE URBANIZANDO
E MUDOU QUASE TOTAL
COMER A FRUTA NO PÉ
SEM UM PINGO DE VENENO
ISSO NÃO EXISTE MAIS
NEM AS AVES CANTADEIRAS
DEBAIXO DOS LARANJAIS
NAQUELES VELHOS QUINTAIS
NO BRASIL RURAL ANTIGO
ATÉ NAS CIDADES TINHA
UM PEQUENO ARVOREDO
E UM CANTEIRO DE SALSINHA
NOS ARRABALDES ERA CERTO,
AMOJANDO ,UMA VAQUINHA
UM PORQUINHO NO CHIQUEIRO
E UM GALO NO TERREIRO
CORRENDO ATRÁS DAS GALINHAS
MESMO AS VILAS À BEIRA MAR
TINHA OS ARES DAS BIBOCAS
E NUM TOSCO GALINHEIRO
ALGUMAS GALINHAS CHOCAS
BOTAR O PEIXE NA SALGA
SECAR AO SOL, PENDURADO
PEGAR O SIRI NA COCA
TARRAFAR NO MAR GROSSO
CARDUMES DE COCOROCA
NO SERTÃO AS GRANDES ÁRVORES
COM OS BANDOS DE ARARAS
E MACACOS LÁ NA GRIMPA
HAVIA GRANDES FLORESTAS
HAVIA PRAIAS DESERTAS
DE GENTE DESABITADA
MAS DE AVES POVOADAS
COM MUITO PEIXE NO MAR
E CÔMORO DE AREIA LIMPA
VELHAS CASAS DE MADEIRA
COM TRONCOS MAL FALQUEJADOS
COBERTURA DE SAPÉ
APOIADA NAS RIPEIRAS
PAREDE DE CANELEIRA,
DE PEROBA, ANGICO E CEDRO
ALI MESMO DERRUBADOS
E SEGURAVA OS ESTEIOS
UM CIPÓ BEM AMARRADO
EM MUITAS CASAS, A COZINHA
DE BARRO ERA ASSOALHADA
E, NO MEIO , GRANDE FOGO
PERTO, A LENHA EMPILHADA
UMA ESTEIRA DE PIRI
A MESA DA CRIANÇADA
UMA CAMBUCA ERA O PRATO
CARNE A CAÇA DO MATO
O PÃO A BANANA ASSADA
LIMPAR O ARROZ DA QUIRERA
E ESCOLHER O FEIJÃO
NA PENEIRA DE TAQUARA
QUASE TUDO FEITO A MÃO
O ARROZ ERA PILADO
A PANELA ERA DE FERRO
PENDURADA NUM FOGÃO
PRÁ ANDAR NA NOITE ESCURA
A LANTERNA ERA UM TIÇÃO
A GENTE MAL SE QUEIXAVA
DO ESPINHO DE URUMBEVA
DO PICAR DA MAGANGAVA
DO INCHUME NO NARIZ
QUE O MARIMBONDO DEIXAVA
A RÃ NO FUNDO DO POÇO
DA ÁGUA QUE SE TOMAVA
E AQUELE ANGU DE CAROÇO
QUE A GENTE TANTO GOSTAVA
COMO HAVIA DIVERSÃO
E TAMBÉM ARTE NAS PRAÇAS!
OS RAPAZES E AS MOÇAS
BRINCAR DE PASSAR ANEL
OS ARTISTAS, COM DESTREZA,
A MANEJAR O CINZEL
DA NOITE, OS SARAUS À LUA
DE DIA, OS VERSOS NA RUA
PENDURADO NUM CORDEL
E UM LUGAR NO CORAÇÃO
E TAMBÉM LÁ NO GALPÃO
POIS NEM O POBRE ANDARILHO
IA DORMIR NO SERENO
NÃO TEM MAIS JOIO NO TRIGO
O MUNDO HOJE É PEQUENO
JOGAMOS A ENXADA FORA
E A ERVA DANINHA, AGORA
MATAMOS SÓ COM VENENO
MORAVA NA MESMA CASA UMA FAMÍLIA TODINHA
O MILHO ASSADO NA BRASA
E A VOVÓ CONTANDO CAUSOS
QUE ASSUSTAVA A CRIANÇADA
HISTÓRIAS DA CAROCHINHA
DO MONSTRO EMBAIXO DA CAMA
E DAQUELA MULA, COITADA,
QUE NEM A CABEÇA TINHA
E O ARMAZÉM DO SEU NICA
COM O LÁPIS NA ORELHA
PAPEL PARDO NO BALCÃO
QUE VENDIA QUEROSENE
PRÁ ACENDER A PIXIRICA
NÃO TEM MAIS ANTA NO BARRO
NEM PREÁ NA TIRIRICA
NÃO TEM MAIS FAVO DE MEL
NÃO TEM MAIS ÁGUA NA BICA
COM AS MEDIDAS ANTIGAS
COMPRAR E VENDER NA PRAÇA
MEIO SACO DE FARINHA
DUAS LATAS DE BANHA
MEIA PIPA DE CACHAÇA
UMA ARROBA DE FEIJÃO
E, DE CORDAS, TANTAS BRAÇAS,
O FIADO NA PALAVRA
QUE O RESPEITO ERA DE GRAÇA
E AS TEIAS NOS CAMINHOS,
AS ARANHAS NO CHAPÉU?
NÃO TEM LONTRAS NA CASCATA
NEM CATETO NO MUNDÉU
NÃO TEM MAIS OUVIR NA MATA
DA BICHARADA O ESCARCÉU
NÃO TEM MAIS AS SERENATAS
NÃO TEM MAIS LUAR DE PRATA
NÃO TEM MAIS BRILHO NO CÉU
NÃO TEM MAIS A COIVARA
NEM FAZER UM BOM ACEIRO
NÃO TEM MAIS TAMANDUÁ
NÃO TEM MAIS O CUPINZEIRO
NÃO TEM MACUCO NO MATO
NEM JACARÉS NAS LAGOAS
NEM ARAQUÃ NO TERREIRO
NÃO TEM MAIS COVO NO RIO
NEM CASCUDOS NOS RIBEIROS -
E A RODA D"ÁGUA A GIRAR
NA FORÇA DA CACHOEIRA
E AQUELE VELHO MANJOLO
ONDE O MILHO ERA SOCADO?
QUEM JÁ VIU BATER FEIJÃO
COM AQUELES VELHOS MANGUAIS?
E O MILHO PARA GALINHA
E TAMBÉM PARA A FARINHA
À MÃO SER DEBULHADO? ( ATÉ A PÁGINA 10 )
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